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COMO UM SELO É IMPRESSO

COMO UM SELO É IMPRESSO

COMO UM PAPEL VIRA SELO?

 

Essa é uma pergunta pertinente que todo filatelista deveria se fazer, principalmente se for um estudioso dos selos. Sem conhecer os métodos e detalhes de como um pedaço de papel se torna um selo vendido no guichê dos correios do mundo, não é possível se fazer um estudo realmente válido, a prova de erros. E é essa a proposta deste artigo do nosso blog "Selos Ordinários do Brasil de 1890 a 1993" (somente a partir da República), conhecer primeiro como um selo é confeccionado. O assunto não é muito complexo, no entanto é muito carregado de detalhes técnicos importantes de se conhecer. Como já foi dito antes, sem se conhecer todos esses detalhes, qualquer estudo ficaria alijado e não teria um final confiável.

Antes de saber como um papel vira selo é preciso saber como e quando um papel vira papel, ou seja, como um papel é fabricado. É muito importante isso, pois os selos são impressos em variados tipos de papéis e cada um tem a sua característica e influi diretamente no produto final. Vamos nos ater apenas na fabricação industrial do papel e não em sua sua fabricação artesanal, já que selos não usam papel artesanal. Não confunda papel artesanal com papel reciclado, são coisas bem distintas.

Os selos ordinários brasileiros foram impressos em diversos tipos de papéis. Papel offset (tipo sulfite), couchê, vergê, tramado, linhado, cartão e película, sendo esses os mais comuns. Em todos os tipos foram utilizadas diversas gramaturas¹ e espessuras, desde 35 micra até 185 micra. O tipo de papel interfere diretamente na tonalidade de cor e na resistência mecânica do selo.

Temos três tipos básicos de matéria prima para a confecção de papéis para selos: fibras vegetais naturais, fibras sintéticas e fibras mistas (mistura de sintéticas e vegetais). As fibras vegetais são as mais utilizadas até os anos 1990. Depois disso são utilizadas as mistas e as sintéticas mais comumente. Não se conhecem selos ordinários de 1890 a 1993 confeccionados em papéis de fibras mistas e sintéticas, apenas em papéis de fibras naturais e nem em papel reciclado. Abaixo tem dois vídeos que mostram como o papel é produzido. Não deixe de assistir, se te interessa estudar os selos.



 Como é produzido o papel 1

Como é produzido o papel 2

Bem, agora já vimos como o papel vira papel. O tipo de papel é determinado pelo tipo de fibra (celulose) utilizada em sua massa e a máquina que irá torná-lo uma folha plana ou uma bobina. Os métodos de modificar os papéis se denominam "calandragem". A calandragem é o método para se fabricar papel de vários tipos, como o vergê e o linhado. São cilindros que possuem os desenhos do tipo em alto ou baixo relevo e prensam o papel assim que saem da máquina que os fabrica. Já o couchê é produzido aplicando-se uma camada de gesso e caolim por cima da folha já produzida, o que torna o papel muito liso e brilhante, quase espelhado. Existem papéis couchê de face única (aplicado o método apenas em um dos lados) e o couchê nas duas faces, na frente e no verso. Os selos impressos a partir da década de 1970 são, em sua maioria, impressos em papel couchê de face única. É assim que basicamente são fabricados todos os papéis utilizados pra imprimir selos.

A FILIGRANA OU MARCA D'ÁGUA


Nos selos ordinários brasileiros até 1971* existe um detalhe no papel chamado filigrana (ou marca d'água). É uma imagem que se assemelha a uma impressão que só pode ser vista em condições específicas. Essa "impressão" (vamos chamar assim, apesar de não o ser), é feita ainda com o papel sendo fabricado e estando úmido. A técnica nasceu (teoricamente, não temos um registro definitivo) na Itália do Século XIII pela fábrica Fabriano, na comuna (cidade) homônima da província de Ancona, apesar de termos registros de pergaminhos no Antigo Egito que possuíam um tipo de filigrana. As filigranas até o início do Século XIX eram confeccionadas na massa do papel com palavras ou desenhos feitos artesanalmente em arames torcidos ou em madeira dura entalhada, um trabalho como o da ourivesaria. Os arames ou madeiras duras com palavras, letras ou desenhos, eram usados no meio da massa do papel, prensando e deixando para repouso até perder a maior parte da água presente nessa massa. Depois era secado e aparecia um desenho visível contra a luz. Esse método foi evoluindo até chegar-se as filigranas apostas industrialmente em papéis de segurança, como os dos selos, cédulas de dinheiro, documentos, diplomas, etc. Na época dos selos da série Vovó (a partir de 1919), os papéis tinham filigranas confeccionadas com métodos mais modernos do que os do Século XIII. Eram cilindros, como os usados em impressões gráficas que formavam o desenho no papel apenas visto contra a luz, a filigrana ou marca d'água. As filigranas nos selos são melhores observadas em um recipiente de cor negra com benzina retificada, onde se coloca o selo e a filigrana aparece mais nitidamente. Os selos impressos em papel espesso têm as filigranas menos visíveis e requerem uma forma diferente de visualização. Abaixo o link com a história da filigrana.

Museu da Carta e da Filigrana

As filigranas foram o método de segurança usados nos selos do séculos XIX e XX e depois abandonadas para dar espaço para outros métodos, como o da fluorescência (erroneamente chamado de fosforescência). Mas esse método só foi implantado depois de 1970, nos selos ordinários brasileiros.

Os selos ordinários brasileiros utilizaram as filigranas em suas emissões de 1890 até 1971, sendo este último ano apenas para o aproveitamento de papel filigranado que sobrou da emissão de 1969. Os selos brasileiros possuem muitas filigranas diferentes nesse período. Algumas sendo questão de debates intensos até hoje. Provavelmente é o mais intrigante assunto dentro da filatelia dos selos ordinários brasileiros juntamente com as cores. Não iremos entrar em detalhes aqui sobre as filigranas diversas nos selos brasileiros. Vamos deixar para cada edição, para analisar em detalhes cada uma, de acordo com cada selo de cada emissão. Existem selos de 1978 que possuem filigrana, porém foi uma emissão errônea.


TIPOS DE IMPRESSÃO

 

Os tipos de impressões gráficas usados para a confecção de selos são cinco diferentes no processo, mas iguais no princípio: rotogravura, offset, tipografia, litografia e talho doce. Cada uma delas tem as suas próprias características e resultados.

As primeiras emissões da Série Cruzeiro de 1890 foram impressas em talho doce ou calcografia, uma técnica centenária surgida durante a Renascença no Século XV. Essa técnica foi utilizada por muitos artistas renascentistas e é considerada uma das mais finas técnicas que existem. Até hoje as cédulas de dinheiro e diversos documentos importantes, são impressos utilizando esta técnica.


Buril (fig. 1)

Ponta Seca (fig. 2)

Máquinas Impressoras a Talho Doce - Calcografia (fig. 3)

Documento Impresso pelo Sistema Talho Doce (fig. 4)


A técnica consiste na confecção de uma matriz em cobre ou aço utilizando-se o buril e a ponta seca (figuras 1 a 4, acima), que são os instrumentos utilizados para formar desenhos cavando em uma placa de cobre ou aço, conforme mostram os vídeos abaixo:

O artista J. Bosco Renaud confeccionando uma matriz em talho doce

 
Gravação de Matriz e Impressão em Talho Doce

São vários os tipos de impressoras para calcografia (talho doce). Desde as manuais dos séculos XVII e XIX (fig. 5), até as mais modernas, usadas para a impressão de impressos de segurança, como as cédulas de dinheiro. Veja o vídeo abaixo.

Impressora calcográfica em funcionamento

O outro sistema de impressão utilizado nos selos ordinários de 1890 a 1905 foi a tipografia. Sistema este baseado em tipos móveis e em placas de estanho, zinco, cobre ou antimônio onde eram gravadas as imagens através de um sistema químico que corroia as partes indesejadas formando assim um desenho ou figura. Semelhante ao talho doce, porém um tanto mais rústica e sem mostrar muitos detalhes. Essa placa gravada é conhecida até hoje como clichê. O sistema químico para a confecção de matrizes seguiam o mesmo princípio usado na feitura dos clichês. Por ser bastante impreciso, devido ao trabalho ser manual, quase artesanal, os selos impressos nesse sistema são de baixa qualidade e inundados de variações, por causa da imprecisão da impressão.

Hoje a tipografia é usada quase que exclusivamente para  impressão flexográfica ou de hot stamping. O princípio continua o mesmo.

Impressora tipográfica manual

Impressora tipográfica automática

Confecção moderna de clichê

Muitos selos foram confeccionados com este método. Hoje ele é usado para impressos finos, pois com a tecnologia, a qualidade evoluiu muito. Tanto que o método mais usado hoje é a confecção de clichês a laser e a impressão é apenas de pequenas áreas de destaque, como se vê em convites e capas de livros.

Hoje se tem dois métodos usados na confecção de selos: rotogravura e offset.

A rotogravura é de longe, o método mais usados para a impressão de selos, pois permite uma grande tiragem a baixo custo. As revistas e jornais que você lê, muito provavelmente foram impressos em rotogravura. E a revista, se não foi impressa por rotogravura, foi impressa pelo método offset, que permite média tiragem a baixo custo. Vamos entender agora como funciona cada um desses métodos.

A rotogravura é um sistema de impressão que utiliza um cilindro com a imagem gravada e bobinas de papel para a impressão. Ela também aceita folhas soltas, mas são raros os casos de impressão plana (nome dado a impressões em folhas soltas) em rotogravura.

O cilindro da rotogravura recebe as imagens e textos através de uma gravação química ou, no sistema mais moderno, a laser.Pequenos sulcos, os alvéolos, são cavados neste cilindro formando assim a imagem. É nos alvéolos que é depositada a tinta que servirá para imprimir o papel. Como o sistema é de baixo relevo, a tinta entra nos alvéolos, depois recebe uma raspagem para tirar todo o excesso de tinta e em seguida essa tinta que está nos alvéolos é transferida para o papel, através de uma prensagem exercida por um rolo próprio, chamado de rolo de impressão (fig. 6 e 7).


 Esquema de entintamento e impressão do sistema de rotogravura (fig. 6)


 Esquema de funcionamento da rotogravura (fig. 7)

A capacidade de impressão pelo sistema de rotogravura é bastante ampla e pode ter tiragens de milhões de exemplares a uma velocidade bastante alta. Nesse sistema a impressão de todas as cores é feito simultaneamente. Veja o vídeo abaixo de uma rotogravura em funcionamento.

Rotogravura em funcionamento

No próximo vídeo é possível acompanhar todo o processo da impressão de um selo. As duas últimas etapas são a aplicação da goma e a perfuração dos selos. Todo esse processo é feito pela própria rotogravura, através de acessórios que são colocados em sua etapa final. Nos selos do final do Século XIX e no início do Século XX, a goma era aplicada manualmente e os picotes eram feitos por máquinas bastante rudimentares e às vezes, com uma picotadeira de mão.

A confecção de selos pelo sistema de rotogravura


Outro sistema comumente usado para impressão de selos é o offset. Esse sistema difere em alguns pontos da rotogravura e que iremos ver agora.

As offset trabalham com o sistema de transfência de imagem, como um carimbo, como podemos ver no esquema abaixo (fig. 8). Essa transferência é feita por um cilindro chamado de blanqueta e que recebe a imagem de uma chapa de alumínio fotossensível pré gravada com os elementos que se quer transferir; esse cilindro é o porta chapa. Essa chapa é gravada usando o sistema de fotolito, que nada mais é que uma folha de acetato fotossensível que recebeu a imagem final, como em uma fotografia, porém em diapositivo ou negativo. Esse filme final é utilizado sobre a chapa de alumínio também fotossensível, que transfere a imagem existente no filme. Depois de sensibilizada, a chapa é colocada sobre o cilindro próprio e quando em funcionamento, recebe tinta em suas partes que possuem imagem e as transfere à blanqueta, que por sua vez, transfere para o papel. Veja o funcionamento no vídeo abaixo.
 
 Esquema da transferência da imagem pelo sistema offset (fig. 8)

A imagem capturada por câmeras especiais e transferidas ao fotolito por processo fotográfico são criadas com uma arte (analógica ou digital) e fotografadas usando uma técnica conhecida como reticulagem (aplicação de retículas). As retículas são pequenos pontos de tamanho e inclinação variáveis conforme as sombras e luzes contidos na imagem e que forma a ilusão de tom contínuo, de uma imagem em meios tons (fig. 9 e 9a).

Simulação do meio tom ou tom contínuo através de retículas (fig. 9)

Retículas usadas na gravação de chapas de offset (fig. 9a)

Para cada fotolito e chapa de offset que se utilizará, é feito um filme específico para a cor escolhida. Para o caso de imagens monocromáticas têm-se apenas um filme e uma chapa (fig. 10). Já para o sistema multicor, conhecido como policromia ou quadricromia, utilizam-se quatro filmes e quatro chapas, um conjunto de cada para cada uma das quatro cores básicas, ciano, magenta, amarela e preta, conhecida como CMYK (fig. 11). Utiliza-se um fotolito e uma chapa extra para cada cor especial aplicada.

 Chapa de offset após gravação fotográfica (fig. 10)

As quatro chapas com as cores básicas e uma ampliação com lente especial (conta fios) (fig. 11)


Os canais de cores e os graus de inclinação de cada uma delas (fig. extra)

A forma de impressão da offset se assemelha a todas as demais formas existentes, sendo mais próxima da rotogravura. Assim como esta última, as offset podem trabalhar com folhas soltas ou em bobinas e podem imprimir simultaneamente as quatro cores, as cores especiais e a frente e o verso do papel. Ambas aceitam uma ampla gama de tipos de papel e acabamentos especiais. Nos vídeos abaixo temos as offset em operação.

Impressão a cores no sistema offset

Operação de uma offset
Esquema de funcionamento de uma offset de quatro cores simultâneas

Uma offset frente e verso em funcionamento

E aqui encerramos sobre como um selo se torna selo desde a fabricação do papel até o produto final. Ainda iremos falar mais um pouco sobre cada sistema nos demais tópicos sobre filatelia, principalmente nos estudos de variedades e acidentes.



COPYRIGHT 2016 - BLOG SELOS ORDINÁRIOS DO BRASIL 1890 - 1993
AUTOR: Romeu Vanni de Natale
REVISÃO:  José Augusto Fonteque

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