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CORES - Parte 1

AS CORES DOS SELOS MONOCROMÁTICOS

Como são conseguidas?

Cores! Este é um dos temas mais controversos e complexos dentro da filatelia. Rosa pálido, azul aço, carmim rosado, cinza ardósia, pardo avermelhado, cinza oliva escura... São centenas de nomes batizando as cores e ninguém consegue saber de qual cor se trata cada um dos seus nomes. Que cor é "cinza oliva escuro"? Sempre associamos o cinza como uma nuance entre o branco e e o preto e o oliva como um tom de verde. Por que será que existe tanta confusão ao dar-se nome às cores? Os motivos são vários e vamos vê-los agora.

Um pouquinho de ciência física

Antes, vamos ver como a ciência física nos explica as cores. As cores não existem materialmente, são criadas pelo cérebro dos seres vivos, a partir das variadas formas em que a luz se apresenta. Um dos exemplos mais comuns é o do arco-íris, que nada mais é do que a luz atravessando gotículas de água na atmosfera e que nos dá a ilusão de terem sete cores. Essas sete cores existem por causa da frequência com que essa luz se apresenta. A água, no caso do arco-íris, age como um difusor que permite variadas frequências nessa luz emitida pelo Sol. O assunto é muito mais profundo do que essa minúscula pincelada grosseira. Ao final do artigo colocaremos alguns títulos de livros muito bons que tratam do assunto mais profundamente. O espectro visível para o homem compreende em torno de 64 milhões de cores diferentes (a maioria são nuances, tonalidades). Porém, as nuances são tão próximas umas das outras que acabam confundindo quem as vê. Principalmente porque cada ser humano vê a cor de uma forma diferente. O que é carmim para um, é vermelho vinho para outro. Cada pessoa reage psicologicamente de uma forma diferente ao ver determinada cor. Seja pela preferência por esta ou aquela, ou pelo contexto cultural que a rodeia. A cor é algo subjetivo. Mas o estudo das cores não deixa de ser uma ciência física, portanto exata.

Como o objetivo do blog não é o de ensinar a teoria das cores, vamos nos deter sobre como se formam as cores nos selos ordinários do Brasil.

Monocromático ou policromático?

Os selos brasileiros do período de 1890 a 1993 são basicamente monocromáticos, com raras exceções. Por esse motivo as cores tiveram batismos com os nomes que conhecemos e alguns mais do que bizarros. Ninguém merece um verde russo (?). Não merece porque ninguém sabe explicar que cor é essa. Menos ainda quem inventou tal nome para uma nuance da cor verde.

Talvez a série mais colorida que temos nos selos ordinários do Brasil seja a Série Bisneta. Ela encanta adultos e crianças, pela sua vibração de cores. Não conheço nenhum filatelista que não possua ao menos a série básica, com os selos tipos. E ela é uma ótima fonte de estudo para as cores, pois nos dá uma gama enorme de variedades coloridas. Ao estudarmos as cores dessa série, podemos montar um catálogo de cores que abrange dezenas de outros selos de outras séries. E se acrescentarmos a ela a Série Próceres e Alegorias Republicanas, teremos um catálogo de cores praticamente completo.
As cores se resumem em três cores básicas entre as primárias aditivas e três entre as primárias subtrativas. As cores primárias são as mesmas usadas nas TVs, nos computadores, nas câmeras digitais e em outros aparatos e são elas: Red (vermelha), Green (verde), Blue (azul), RGB. Essas cores são aditivas, ou seja,as adições dessas três cores em variadas proporções permitem, permitem conseguir-se outras cores e tonalidades e a adição de todas elas gera a soma de todas as cores, a branca (fig. 1). E dessa adição são geradas as cores primárias subtrativas (ver mais abaixo).

Figura 1

Mas o RGB não nos interessa porque estamos falando de impressão em papel, por isso a que nos interessa são as chamadas cores primárias subtrativas, que são o Ciano, Magenta, Amarela e Preta, CMYK (fig. 2). Mas não são três? Então por que tem quatro? Isso nós vamos ver mais a frente.

A subtração de todas as cores gera o preto, que é a ausência de cor, a falta de luz, já que cor é apenas luz refletida. E dessa subtração das três cores gera outras tonalidades e as cores RGB, que vimos logo acima.

Figura 2

As cores chamadas de primárias subtrativas, são misturadas e possibilitam 64 milhões de cores/tonalidades, que é o espectro visível do ser humano. É com esse sistema de cor que os selos são impressos. Até mesmo a sua impressora caseira usa esse sistema de cor.

A cor preta na verdade, não faz parte das cores básicas. Apenas entra como suporte das outras cores para dar mais vida às impressões e possibilitar uma visão mais consistente das áreas mais escuras. Ela é chamada de cor chave, Color Key, por isso a representação pela letra K.

E os selos ordinários monocromáticos?

Monocromático é toda impressão que tem apenas uma cor e sua vasta gama de tonalidades (fig. 3), mais claras ou mais escuras. E os selos ordinários brasileiros foram impressos assim, pelo menos no intervalo de datas que é o objetivo do blog, de 1889 a 1993.

 Figura 3

Veja um bom exemplo de um selo monocromático com as suas nuances (fig. 4):

Figura 4

Quais são os nomes das cores?

Excelente pergunta! O nome das cores você pode escolher a vontade. Desde os nomes sensatos aos mais estapafúrdios. Não existe um nome de cores, senão as básicas, que seja consenso em algum lugar deste planeta. É muito complexo tentar dar nomes às cores. Então o mais sensato é dar a formulação química da mistura de tintas usadas por ela, o que já é um trabalho hercúleo. Por exemplo, o selo acima, da Série Cruzeiro, é nomeado na cor como 'verde oliva'. Porém, existem outras nuances também chamadas de 'verde oliva', o que gera uma tremenda confusão. Seria muito mais fácil dar-se a fórmula dessa cor, no caso: 50% de ciano, 45% de magenta, 65% de amarelo e 20% de preto. Pronto, não tem mais como errar essa tonalidade. O nome poderia ficar assim: C50M45Y65K20 (fig. 5). Bem simples, não? Seria uma nomenclatura internacional e todos poderiam classificar as cores dos seus selos.

 Figura 5

Como são formadas as diversas tonalidades e os desenhos?

Os desenhos e as tonalidades são obtidos a partir de uma simulação baseada em pequenos pontos de tamanhos e posições diversos, conhecidas como retículas. Nas partes mais escuras os pontos são maiores e mais condensados e nas partes mais claras os pontos são menores e mais espaçados entre si (menos denso). Assim se produz a ilusão ótica de uma imagem impressa (fig. 6). Isso vale para a litografia, a rotogravura e a offset. No caso do talho doce são os sulcos entalhados na matriz que dão a ilusão de uma imagem e as nuances de cor (fig. 7).

Figura 6

Figura 7

As retículas da rotogravura e da offset são diferentes, já que a rotogravura consegue imprimir em meio tom (tons contínuos) para reproduzir uma imagem (fig. 8). No entanto ela usa o mesmo artifício da offset quando precisa reproduzir tonalidades diversas, apenas divergindo da forma como isso é feito. Na rotogravura os sulcos mais rasos do cilindro de impressão, imprimem as tonalidades mais claras e os sulcos mais profundos imprimem as tonalidades mais escuras (fig. 9). Veja o tópico A Filatelia Especializada neste mesmo blog, que trata em detalhes sobre os tipos de impressão usadas nos selos ordinários brasileiros.

Figura 8


Figura 9

No caso da tipografia, é um misto entre retículas e traços e tudo é feito em uma base de antimônio, cobre, aço ou mais antigamente, em chumbo, conhecido como clichê (fig. 10). Porém esse sistema se presta mais para os desenhos feitos com traços, sem muitos detalhes.

Figura 10

Pode-se dar tonalidades também se misturando diversas cores, mas esse não é o procedimento normal na impressão de selos por qualquer um dos sistemas comentados. A técnica usada no procedimento usual dos selos policromáticos (fig. 11), é o da retícula, dos sulcos rasos ou profundos, dos traços entalhados, etc, conforme já explicado. Para as impressões monocromáticas, a maioria dos selos foram impressos com tintas de cores específicas (fig. 11a).
 
Figura 11

 Figura 11a

Então sabemos, por pura lógica, que a cor mais escura é a que dá as diversas tonalidades na impressão monocromática. Não se pode determinar a cor de outra forma, sob pena de cometer-se um erro perigoso, comprometendo qualquer classificação séria.

Outras dependências da cor

A cor que vemos depende de 'n' fatores externos a ela. Tipo de papel, papel amarelado pela ação do tempo, papel com tonalidades diferentes do branco, mesmo que sejam suaves, tipo de iluminação, cores das paredes do local onde se está examinando o selo e outros diversos fatores que podem alterar a tonalidade, e às vezes até mesmo a cor de um selo. Nunca classifique um selo usando a luz natural do Sol, por exemplo. Com certeza, em outro ambiente essa cor se apresentará de maneira muito diferente do que ela é realmente. As luzes em gráficas geralmente são fluorescentes frias e luz do dia, com intensidades (Watts) altas. Então temos de reproduzir o ambiente o mais próximo possível de uma gráfica. Não existe gráfica que trabalha sob a luz do Sol. Veja o tópico A Filatelia Especializada neste mesmo blog.



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AUTOR: Romeu Vanni de Natale
REVISÃO:  José Augusto Fonteque

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